Uma mente que não repousa em verdes pastos.

Percebendo, seja em um estalo, ou numa árdua reflexão, que a vida não passa de pura ilusão, o primeiro movimento que tenho é negar esse acesso lucido o chamando de demência, no inicio individual e muito em breve, generalizando a ilusão como uma demência coletiva: a dor que traz a futilidade do meu e do seus passos.
No fim, cria-se uma válvula de escape saber que o próximo esta servindo-se do mesmo alento ilusório que o meu: galgando juntos na conformidade que é o ato de respirar.
São palavras de alento, acreditar que se só tenho a ilusão, devo fomentá-la e não nega-lá, pois, afinal, a ilusão é a unica coisa que tenho, por isso vejo no homem, um ser de persuasão pueril, encantando-se com o ato de existir como um esfolado.

Antinomia: Querer acreditar com a razão ou com o sentimento é o conflito inerente do homem em vida.

“Queríamos ser tudo o que imaginamos ser, seriamos tudo como também um nada a perecer”.

A sombra das ideias é escura e fria, e nós, encolhidos nela, repousamos na penumbra de corpos gelados abraçados em volta de si, tão longe do calor do sol. No entanto, encolhidos na profunda penumbra das ideias, imaginando representar-se como o corpo ao sol; um demente maravilhado pelos efeitos de seu próprio devaneio, persuadindo-se e fabulando projetar-se como o agente criador de uma sombra indelével ao tempo, e, que acumula “considerável sabedoria” propagadora de instruções ao próximo corpo cale-frio encolhido nas sombras.

A sombra da sombra em uma desenfreada tentativa de designar métodos; sequiosos, eternizando-se numa elevação constante de impropérios contra a falta de sectários que almeja possuir antes do fim eminente de seus corpos. Tão só; Porém, cheio de si. O ato de perpetuar-se nos outros atrapalharia a nossa própria perpetuação?

“Quem tem méritos não precisa apregoa-los, e bons preceitos morais não necessitam ser expressos”. Bertrand Russell.
A erva-daninha, o rebanho, vai contra Russell, pois, sempre resmunga a falta de instrução impondo-se no mundo com o titulo de desditoso – desafortunado.

Homens que necessitam de preceitos que não são seus para trilhar caminhos já trilhados e permanecer com o título de “homem”? É precisamente este tipo de “homem-erva-daninha” que segue leis, sem consenso com seu íntimo e averiguação sincera: não coloca-se nem mesmo a margem de seus próprios pensamentos: não se debate em duvidas e indecisões.
Indaga Proust: o homen é um ser que não sai de si e compreende os outros em si. Pois bem, ao meu ver, concordo; Embora, este “si” é de tão mau gosto quanto a saliva que o homem alienado engole de seu semelhante para sair de si a qualquer custo.

Eles, o rebanho, não querem ter uma sombra de seu próprio corpo, não o desgosto de seu próprio desespero, querem ser sombra de um qualquer que pense por eles, querem sugar do desespero alheio, lhes convém o pensamento Freudiano de que: eu sofro! mas me sinto bem porque o meu próximo também sofre. Esses asseclas, abstêm-se, tentam abster-se a todo custo da subjetividade; existe neles, por defeito, toda uma procura num anseio profético por um líder que lhes dite o próximo passo numa busca desenfreada por não pensar: em um covil de pensamentos estúpidos onde mais estupido é não pensar.

No paradoxo dos pensamentos que não levam a nada, a não ser, a própria alto destruição em um combate infrutífero contra suas contradições sem conclusão, e, se alto destruir-se é objetivar algo: a “aniquilação de si”, então tal paradoxo não nos levaria ao “nada”, mas sim, a algo coerente pelas circunstancias consideradas “ilógicas”, na relação do homem tolhido nas sombras de seu pensamento: num conflito sem paz e nem uma chance de conciliação: da razão e suas formulas contra uma vida informulavel.

Mas, ilógico a que? A vontade? A vontade de vida? Segundo Unamuno: vontade e inteligência procuram coisas opostas: aquela procura absorver o mundo em nós, apossar-se dele; a segunda procura que sejamos absorvidos no mundo. Embora pareçam, não são o mesmo. E o filósofo conclui: A inteligência é monista ou panteísta, a vontade é monoteísta ou egotísta. A inteligência não precisa de algo dela onde se exercer; funde-se com as ideias, enquanto a vontade precisa de matéria…

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Ó insaciável incontrolabilidade de persistir nos percalços que o percurso exige; entretanto, os percursos que escolhemos trilhar produzem os percalços que tentamos evitar, “o absurdo da existência torna-se uma comédia muito mais que tragédia no conflito entre viver e se debater em dúvidas e indecisões estimuladas pela razão?”.

Atentar contra os obstáculos que originam-se do ato de “persistir vivendo” é parar de trilhar e ser improdutivo? ameaças insidiosas do ser contra o próprio ser, e, novamente, a vontade de vida luta contra a tentativa de libertação, ou melhor, liberdade: pela morte antecipada e sem mais delongas, liberdade! A liberdade da escolha de viver ou morrer, pois, a libertação na morte prematura do homem que corta o cordão umbilical com a vida, pressupõe que exista uma nova vida além da vida terrena, o que indubitavelmente não existe: e isso é a razão deveras “lógica” que me impõe contra a fé a acreditar, num postulado nada esperançoso, tornando insidioso e irracional o anseio por uma morada no além.

Enquanto isso, em vida, acomodamo-nos em aliviarmo-nos com a sensação do titulo de “conformista”, ou então “indiferente”, pela razão vivemos de migalhas: as ideias como o pão que deixa farelos, do pão nos saciamos momentaneamente, e logo, catamos os farelos para saciarmos novamente e novamente como se as migalhas fossem adjetivos e lembranças de quando a ideia saiu do forno e era quente e deliciosa.

O homem fomenta e estimula a decadente obesidade mórbida da vida, onde ruma a passos lentos ao derradeiro, então que engasgue de uma vez! Somos movidos pela intensidade de nossas crenças apregoadas em nossa vida de experiências constantes – que alguns tem a displicência de mescla-la com o suprassensível? – com influencias do habito, que por erro de discernimento a transformamos em instinto. Nossas crenças, tão vagas e dispersas, numa complexidade que se compreende a si pelas inclinações emocionais que originaram o próprio credo.

O conhecimento é um aparelho falsificador! A razão: uma doença. E o sentimento nos eleva ao sublime como também pode nos rebaixar a um inferno de pesares.
“Porque viver é uma coisa e conhecer é outra, e… existe entre elas uma tal oposição que nos permite dizer que tudo o que o que é vital é antirracional, não apenas irracional, e tudo o que é racional é antivítal. Essa é a base do sentimento trágico da vida” Unamuno.

A vida só é vida quando dispensamos as respostas já que as perguntas formuladas pela razão respondem a si mesmas: pela lógica fugaz e o esquecimento constante, pois, não saem de si através de incontáveis formulas para respostas imediatas que conduzem a uma logica de pesares, porque, vias de fato, não preenchem as lacunas do vazio que circunda o ato de estar vivo. Enquanto que, dando livre curso aos sentimentos, tornamo-nos um mensageiro de sensações que tendem a apaziguar-se pela livre sensação de bem estar, sem a necessidade de dar nomes ou formulas, por mais que defrontemo-nos ainda assim com a melancolia de estar deslocado no vazio. Como Unamuno indaga: nem o sentimento consegue tornar o consolo numa verdade nem a razão consegue tornar a verdade num consolo; mas a razão, agindo sobre a própria verdade, sobre o próprio conceito da realidade, consegue se afundar num profundo ceticismo. E nesse abismo se encontra o ceticismo racional com o desespero sentimental e desse encontro sai uma base – terrível base! – de consolo. Assim como Cioran destaca que o dever da lucidez é almejar um desespero correto, o mesmo autor prossegue: eu não invento nada, sou apenas um mensageiro de minhas sensações.

O véu que encobre os olhos é desespero, e de desespero entende o homem que sem o véu sobre a face não se apetece de falsas ilusões porque a alcunha do desespero está no caminhar dos homens, quer com véu ou sem, aos trancos e barrancos consagra-se na ternura de um desespero saudável, e não mais que desespero é a conclusão final do homem. Querer acreditar com a razão ou com o sentimento é o conflito inerente do homem em vida, mais sublime que isso é o conflito entre os mesmos, fazendo do homem um desnecessário mais que necessário no acidente impertinente de nossa existência.

“Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado” Albert Camus.

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Não afirmo nem nego, estou a disposição de minhas comoções muito mais que de minha lógica, entre minha ambição e a obsessão a uma linha tênue entre o ser e o nada, o ser: e a ambição pela vontade cega de simplesmente viver, e o nada: a obsessão por respostas que não me levam a nada mais que o próprio nada.

“Por desespero afirmamos, por desespero negamos e por desespero nos abstêmos de afirmar e negar…” Unamuno.

Braços cruzados

Passei dos limites da sensatez, ao encontrar uma pedra que aparentemente tão pesada tentei empurrar precipitando-me em uma causa perdida, deveras ilógico, mas que a-priori tomado de entusiasmo, engajei-me em um confronto sem pensar.
Ultrapassei minha própria loucura particular ao permanecer insistindo num prélio que desgasta uma força que nem mesmo tenho, tornando tudo tão irrisório, como o ato de tomar fôlego e insistir; até que desgaste a pele em sangue, esfolado pelo atrito de um ego cego e mudo como a pedra que tomei como calvário.
Um grande homem passou pela terra fétida cheia de homens que homenageiam a si mesmos, ele, conciso e enfático, como poucos sacos de ossos que vislumbraram além de si sem sair de si em nem um momento, indagou: os grandes intelectuais são céticos.
Quem dera a mim, ter sido brando com minhas proporções antes de enredar em um confronto direto com uma rocha silenciosa que em minhas medidas é tão cheia de si, causando-me repugna pela falta de cepticismo de meu olhar cheio de impertinência que almeja o impossível.

“Não se odeia quando pouco se preza, odeia-se só o que está à nossa altura ou é superior a nós”. Nietzsche.

Braços cruzados em frente ao obstáculo, se não for necessário o confronto direto, enredo-me pelos lados, salto sobre o problema ou cavo um buraco até o outro lado, mas, se a desejo de confronto então vagarosamente implanto o asco em uma banana de dinamite na raiz do problema e vislumbro tudo ir pelos ares.
A satisfação da destruição é revigorante quando feita a bel prazer sem esperar nada em troca, elevando-se as alturas, flutuando nas nuvens, com a impulsão de uma bomba que humildemente implora por um pavio e um fósforo.

Natimorto

Não afirmo nem nego, apenas contemplo meus espasmos; um mensageiro das ideias, um profeta cobiçoso enterrado em meu túmulo particular.

Minha consciência é a lápide, meu inconsciente o morto que não se cala, minhas memórias o carma de minhas elucubrações e nostalgia de meus devaneios.

Enquanto vivo, penso muito, e morro a cada passo por pensar demais.

Maiêutica, um parto dolorido onde nasce um edifício. Uma estrutura fundada, arquitetada, concluída e entregue para um tolhido e esfolado pelo tempo.

Uma megalópole habitada por um único homem, que vaga nos edifícios do pensamento, só em meio as ideias: arranha-céus vertiginosos de cores claras ou obscuras.

A aurora desse gigante da indústria do pesar, é um conclave a uma nova bomba nuclear; pois quando o apogeu culminar, indubitavelmente, não correrei senão para fomentar sua derrocada.

Penso no hoje e não no amanhã, do amanha não espero nada. O amanhã talvez nasça com um novo engenheiro, uma nova planta, um novo edifício em meio aos escombros de uma antiga civilização.

Vivendo não pela razão mas pelo sentimento, não pela paz mas pela espera da guerra: por nada e por tudo ao mesmo tempo.

A morte não espanta, pois a espera pela morte é a raiz da questão; aguardo, nada afoito, respiro com precaução este ar poluído de uma grande metrópole intitulada razão.

Animal sentimental.

Olhos inquietos, corpo desequilibrado, respiração ofegante e coração ao limite. Em frente ao confronto eminente; seja ele, o prélio procurado ou que lhe persegue, é sinal de vida em constante turbulência. É sinônimo de guerra entre querer e poder: é a sina do conflito entre sentimento e razão.

O sentimento: indagação corporal com respostas imediatas que não necessitam do verbo, mas sim dos órgãos, das glândulas, mesmo que também da bile.

O universo do homem está no próprio homem, a verdade do homem está em seu corpo; pois tudo mente, menos a fisiologia.
Vê-se na face o porta estandarte de uma reação sem movimento, a não ser na contração e atrofia do corpo defronte ao abismo ou sublime da emoção.
Dá-se propósitos para o absurdo que é a vida: lastimas de um esperançoso dando voz ao que é mudo, silencioso, contudo é irrisoriamente intitulado eficaz a lógica dar-lhe nome e plano de ação para mentir para si e continuar com o semblante da certeza.
Abraço o indiferente, abraço a contradição e o silencio do mundo: por mais que a indiferença constante seja de um mau gosto tão azedo, quanto ao que o corpo possa suportar.
O homem, um animal de sentimentos voláteis, considerado nada ajuizado segundo a razão, o confronto do coração contra a razão seria o conflito do corpo contra o corpo? Compreendendo aqui a mente como um órgão que tenta rebelar-se do resto, colocando-se como um presidiário que a si próprio absolve-se e procura liberdade por conta própria sem auxílio das pulsões orgânicas, ao qual, tenta diferenciar-se.
Animal sentimental e nada racional, mais metafísico do que terreno, mais mensageiro dos seus sentimentos do que o calabouço de sua razão lógica, que grita contra a vida e que da ênfase as objeções do considerado abjeto, lutando contra a vontade cega de sentir palpitações incontroláveis: a pulsão, o sentimento, é mais sublime que a tentativa ferrenha de buscar razões para o porque de tal ato, dar nome ao inominável, mata-lo com o verbo.

A culpa não é do ídolo mas de quem o idolatra.

Não tenho disciplina suficiente para ser de esquerda, não tenho firmeza suficiente para ser de direita e não tenho a imobilidade oportunista do centro. Cony

Uma criança com poder é um desequilíbrio eminente, é como focar o holofote num reles expectador que de nada assemelha-se a um ator e esperar do mesmo uma performance digna de um espetáculo. Mas quem culpar, a vulgaridade, agora com o poder nas mãos ou quem deu poder a vulgaridade?

É uma simples equação: se antes fora um vulgar acomodado em meio aos seus, nunca teria chegado ao palco por ser desprovido da performance, não seria capaz de tal feito por ser incapaz de compreender o simples ato.

A maior contradição é que o performatico de nossa atualidade é um inconsequente vulgar que fala o que o povão denomina como verossímil, mas que na verdade é uma comédia igual a tragédia – o povo – que o depositou como grande herói; Embora, este falso heroi não morra no final da trama, persiste e insiste com o apoio dos ignorantes imprestáveis.

O grande tolo e inconsequente é o homem que dá poder ao mero expectador, cria um monstro, uma besta, um quadrúpede com cornos que chifra, pois, já era antes do poder um animal que dava cabeçada nas paredes.

Se alguém tem culpa, este alguém é o inconsequente que elevou a um patamar respeitável o reles que nem mesmo sabe as falas do roteiro.

Onde existe um ser, haverá luta por poder. Até mesmo uma lesma quer poder, anseia por poder, gostaria de ser caramujo e ter uma casca para chamar de lar, por mais que biologicamente não o possa.

O grande problema aqui, é quando a lesma ganha sua morada imaginando evoluir por conta própria. Confundida com caramujo, transformará em um circo de horrores o que deveria ser um espetáculo grandiloquente.

Cauteloso, abstenho-me de ser cúmplice dos problemas, embora tenha que sofrer com a ignorância alheia. A política é muito simples, as pessoas as tornam complexas para ter assunto inesgotável.

“O político corrupto é o espelho do povo que mais corrupto ainda deu asas a um quadrúpede terrestre”.

A manada anseia por um lider, quer ter um líder, escraviza-se por ele, assim será mais fácil para se algo der errado abstenhan-se da culpa pondo seus arrependimentos em quem subiu no palanque.

“Eu culpo quem vota e não o candidato imprestável, eu culpo o iludido e não quem ilude”.

Eu não perco meu voto votando nulo, eu perco meu voto seguindo a corrente, a torrente de bestialidade rumo a uma terra infértil vista como louro da conquista posta sobre um reles moribundo igual a mim.

Um país tropical, bonito por natureza, cheio de merda que anda, fala e carrega no peito um símbolo fanático de hipocrisia denominado ideologia: a baba universal. Se houvesse verdadeira liberdade eu não precisaria sair em um domingo apertar botões e ser fodido por quatro anos ininterruptos.

Excêntrico.

Um movimento perpendicular entre o tedio e o nada é mais que o necessário para aflorar a falta de sentido do ato de viver: sem prescrever labutas para se acomodar a uma existência, sem inventar falsos testemunhos sobre o que é compatível com a vida. E por contradição da falta de sentido encontrasse um sentido que é o nada. Viver seria deixar de procurar ou esperar respostas sobre como viver? Um eco ressoa, é a medida do homem, é a superfície plana nas brumas acima do oceano negro, profundo e medonho.
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Entre acima e abaixo das contrições de um arrependido, a um interim chamado “eu” que espera absolvição: Escolásticos exacerbados, relegados pela falta de movimento de suas contrações de fé, conciliadas pela falta de tato e muitos adjetivos para manter em destaque o seu deus ciumento.
Quem é deus, o excêntrico velhinho? A natureza? O homem? Niilismos de um animal metafísico, sinistros em suas conclusões. Medonho é o dedo que aponta a verdade em direção ao nada? Não há verdade no nada: deus, um nada supremo.
Fanáticos do deus da criação: ultrapassando as expectativas de sua insanidade composta de escatológicas e devires ilusórios. Entre a ânsia pelo fim dos tempos: o Apocalipse de São João e a utopia definida no grego: lugar nenhum.
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Mas no fim pouco importa, nada do que falo – falamos – importa, sou um rio manso sem turbulência se não nas profundezas. Falo porque tenho cordas vocais que timbram numa sonoridade ineficaz que não me satisfaz. Me abstenho das promessas alheias, pois sou um vazio que transborda em impropérios quanto a margem a que estou de mim mesmo. Ao contrário do vazio, o nada não possui paredes. Não me coloco no lugar de ninguém, pois não tenho tempo para compaixão. Não peço tratamento especial, não reclamo na fila do mercado. Sou como um boneco de plástico com pouco ar, quase murcho, largado aos ventos, sem rumo, que infelizmente não estoura em uma ponta afiada de um objeto qualquer. Mas no fim “nada” importa.

Anti-social. Contra tudo e todos.

Não tenho paciência, não sei como lidar com as pessoas, portanto me esquivo o máximo que posso, e por tal motivo receiam-se por estar próximo a mim. Que bom seria permanecerem afastados, mas parece-me que eles anseiam por calor humano. Não cultivo o ódio em meu corpo, cuspo para fora esse asco, por mais que o ranço permaneça em meus labios, externizo esta besta voraz para que não me prejudique. Só guardo dentro de mim as poucas coisas que me fizeram bem, tão poucas que conto nos dedos e não as ponho no papel ou num dialogo para que não se percam ao serem expostas aos ventos.
Um anti-social por escolha própria? um indolente por definição dos outros? um misantropo como resultado justo. Não digo que me sinto bem por ser assim, eu não fico bem com nada.
Sou o tedio em pessoa, rir faz parte de minha dissimulação em sociedade. Meu humor é mórbido e minhas convulsões são de um lirismo nefasto. Vivo de períodos assim como todos os homens, embora meus períodos não sejam nada auspiciosos.
Todos buscam sinais em meio ao caos, a vanguarda lhe dita que deves procurar pelo bem em meio a essa loucura, pois bem, lhe digo que a força da paz é repugnante. Entre Eros e Caos: aquilo que faz mau é a erosão da unidade e não a dispersão dos corpos. Eros é união e desavença pela conjunção, enquanto caos é desunião, o espalhar em cacos um vidro mau temperado em fogo.

“Prefiro ser julgado pelo meus ‘supostos erros’ do que ser absolvido por ‘supostos acertos’ considerados: a harmonia social”.

Não faço o bem, abstenho-me da filantropia, quem ama a humanidade a ama por que não conseguiu amar a si próprio, ou porque quer ser lembrado por todos e ter um legado. Patéticos e estúpidos são todos os seres que deixam de viver para serem esculpidos em uma placa de honras. Prefiro ser esquecido tão rápido quanto uma geração que não promoveu nada, do que ser lembrado por idiotas que carregam uma bandeira de ideologias quaisquer, ao qual serão subvertidas e adulteradas conforme a vontade de um orador cheio de intenções quanto a própria promoção.

As pessoas são estúpidas por natureza, almejam ser profetas e prolongam em demasia suas ideias, querem progredir com o avanço da massa. Que se foda a massa, prefiro ser considerado um ultrapassado, sozinho lá atrás, do que andar de braços dados com uma multidão cheia de merda na cabeça, desculpe, ilusão, desculpe, progresso.

Na palma da mão.

Uma bomba atômica na palma da mão. Uma bola de fogo no lugar da cabeça. Nove dedos podres e o décimo é uma serpente. Fumaça no lugar dos pés. Não há coluna ou órgãos, e sim vermes e um ponto de interrogação.

O vento leva minha mansidão, que agora, penetra como a água nas curvas da desgraça.

Ainda vivo, por insistência, por desconforto de não mais decepcionar o próximo: meu único motivo de preparar meu dia quando cedo, acordo, e inspeciono o quanto desencantar, precedendo o cinismo, antes de ser alvejado por dissimulações alheias.

Algures vi nos olhos do homem, e o que vi me deu náuseas, insatisfeito, permaneci a olhar, e no fim me acostumei com monstro.

Parado, ostento o semblante de um podre dos olhos, escorrendo pus amarelado, que fede e extirpa os próximos de encarar a podridão.

Remansados se exaltam, contradição comum aos que querem dar solução, não pedi ajuda, mas insistem em desrespeitar, para se sentirem úteis e pararem de vomitar.

Espasmos de sarcasmo, ponderando a convulsão, uma briga intensa entre o que quero e o que esperam de mim.

Contrição não me comove, não sou pleno de fé, vago pelos buracos por que tropeço no nivelado.

Espaço, espaço, todos precisam de espaço. Uma bomba atômica na mão, um rosto de fogo, um dedo com veneno e passos que não deixam rastros.

Perdido.

A um novelo de ouro no chão, um presente dado, mas nem por isso é sinônimo de salvação, ainda contínuas perdido.
Caminhando pelo labirinto, só e exasperado, transpirando e tomando fôlego a cada empreitada, cada curva, cada beco. Sentindo uma respiração ofegante e tresloucada que o rastreia, o caça, o estuda. Até mesmo a sombra de seu corpo sente calafrios e o engana querendo fugir para outro lado.
O fio de Ariadne é exaustivo e faz retornar ao abismo da indecisão, enquanto o casco e o grunhido aproxima-se sem modéstia do homem que se debate em dúvidas e indecisões, onde não há solução alguma.
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Toda ação que realiza-se com o manto do medo sobre os ombros, o inibe e faz do homem um arrependido, propenso ao erro e cheio de imaginações quanto aos passos já trilhados e todo aquele sentimento de: Queria ter feito melhor. A nostalgia em relação ao erro cometido é uma angústia que se reveste de impropérios contra o que fui. O homem moderno coloca-se como um vagante em um tempo retilíneo, vê-se como um ponto específico em relação a historia e nada circular, em relaçao ao tempo, como fazia os gregos: Eles subjugavam a história, enquanto nós subjugamos a natureza e obedecemos a nossa história patética: vendo como carma o passo falso que nos leva de frente para o Minotauro sedento por sangue. Nos entupimos de lógica, convenções, e esquecemos a natureza real de se estar perdido.